Desabafos de uma noite vazia
É tarde e eu queria dormir. Na verdade, estava até quase a adormecer, mas ouvi um cão. Fez-me lembrar casa, casa essa que está longe de mais para alcançar no meu dia a dia. Casa essa que eu adoro.
Já não oiço o cão, a hora avança, assim como as saudades. Quem me dera nestes momentos voltar a casa. Abraçar os que me são mais queridos, deitar-me na cama que é realmente minha e aproveitar o que é realmente meu.
Há dias assim, nos quais tudo parece mal, menos a casa, essa parece melhor que nunca, mesmo que, enquanto lá esteja, lhe veja imensos defeitos.
Somos assim, tendemos em ser assim. Bom é o que não temos, quer seja isso porque está longe demais ou porque perdemos de vez.
O cão voltou a ladrar, ou então já sou eu a imaginar. Faz lembrar os despiques tardios que oiço da minha janela, quanto estou em casa. Torna-se difícil não chorar, mas afinal de contas dizem que com o avançar da hora nos tornamos mais sensíveis. Não sei quem o disse, nem se é realmente uma verdade empírica, mas sei que concordo.
Aqui só oiço carros, os móveis do vizinho de cima, os saltos da vizinha de baixo, os estores da vizinha do lado. E isso só me faz lembrar que não estou em casa.
Até hoje não soube o quão reconfortante seria ouvir um cão nesta cidade que me acolheu.
E ainda que me tenha dado um aperto no coração fez-me sorrir porque me lembrei de casa. Casa à qual entretanto já vou regressar.